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Comunicação acústica em peixes-boi (MAMMALIA: SIRENIA): repertório, discriminação vocal e aplicações na conservação e manejo das espécies no Brasil

- Nome: Renata Santoro de Sousa Lima

- Título da dissertação de mestrado: Comunicação acústica em peixes-boi (MAMMALIA: SIRENIA): repertório, discriminação vocal e aplicações na conservação e manejo das espécies no Brasil

- Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

- Orientador:

- Ano de defesa: 1999

Existe pouca informação sobre o tamanho e as tendências demográficas das populações de peixe-boi no Brasil. A dificuldade de monitorar indivíduos em ambientes aquáticos com pouca visibilidade restringe a obtenção de dados sobre características comportamentais que podem ser essenciais na determinação de estratégias para sua conservação. Presume-se que a comunicação entre os peixes-boi é baseada principalmente em sinais acústicos. Evidências empíricas indicam que os indivíduos podem se reconhecer vocalmente. Portanto, seria possível identificar padrões vocais individuais. Foram gravadas vocalizações de 14 peixes-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) e de 15 peixes-boi marinhos (Trichechus manatus manatus) individualmente isolados em cativeiro com o objetivo de identificar as características e funções da comunicação acústica nestas espécies. As vocalizações selecionadas foram digitalizadas e variáveis físicas da onda sonora foram medidas. O repertório vocal de ambas as espécies consiste de estalos e vocalizações. O número de notas e os limites de freqüência das vocalizações da espécie amazônica são maiores do que os da espécie marinha. O repertório de vocalizações desta última espécie é contínuo, sugerindo que as alterações na qualidade do sinal estejam relacionadas a um gradiente de motivação. Algumas variáveis foram sujeitas a uma análise multivariada. A análise de componentes principais (PCA) ordenou os dados indicando que espécies e indivíduos podem ser discriminados com base em variáveis relacionadas à freqüência fundamental e à duração do sinal. T. inunguis apresentou menor variação intraindividual. Foi observada uma diferença significativa entre os sexos nessa espécie. Fêmeas apresentam valores mais altos de freqüência fundamental do que machos. Não há diferença significativa no valor da freqüência fundamental das vocalizações de filhotes de T. inunguis comparado a indivíduos de outras classes etárias, porém vocalizam mais freqüentemente que indivíduos de outras classes etárias. Filhotes da espécie marinha apresentam diferença significativa quanto ao valor da freqüência fundamental das vocalizações, vocalizando em um tom mais agudo do que indivíduos de outras classes etárias. Tal resultado sugere que os filhotes destas espécies apresentam estratégias diferentes para atração de conspecíficos. A duração do sinal é um parâmetro mais variável, podendo ser influenciado pelo estado e motivação do animal. Existe uma relação inversa entre comprimento total e a variação da freqüência fundamental em ambas as espécies. A discriminação das espécies indica que os padrões vocais podem ser espécie-específicos e possuir caráter taxonômico. A individualização vocal dos peixes-boi sugere que o reconhecimento individual seja um aspecto possível nas interações sociais destes mamíferos. A função básica das vocalizações destas espécies de sirênios é a localização, atração e manutenção de proximidade entre indivíduos específicos, marcadamente entre mãe e filhote. O reconhecimento individual e específico pode influenciar em alguns aspectos do manejo como encalhes de filhotes recém-nascidos, monitoramento acústico de populações naturais e captura de indivíduos nativos. A bioacústica provou ser uma ferramenta importante no estudo do comportamento e estrutura social, auxiliando na elaboração de estratégias para a conservação das espécies de peixe-boi no Brasil.